Início Site Página 4

Queijos artesanais agregam valor com Indicação Geográfica

Foto: APAQS

Mapa já concedeu registro às regiões do Serro e da Canastra, em Minas Gerais, e desenvolve ações para habilitar outras áreas

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está trabalhando para ampliar as regiões produtoras de queijos artesanais com registro de Indicação Geográfica (IG). O Mapa identificou 18 áreas de produção de queijos artesanais de leite cru no Brasil, com maturação menor que 60 dias, que podem receber a IG, desde que preencham os requisitos higiênico-sanitários. Duas delas – a do Serro e a da Canastra, ambas em Minas Gerais – já têm o registro de Indicação Geográfica. O IG agrega valor ao produto, o que possibilita ao setor aumentar a geração de renda e de emprego.

Segundo a Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (CIG/SDC) do Mapa, o registro de Indicação Geográfica é um reconhecimento da notoriedade, reputação, valor intrínseco e identidade do produto, além de proteger seu nome geográfico e distingui-lo de similares disponíveis no mercado.

Além do Serro e a da Canastra – regiões que já têm o IG concedido pelo Mapa – outras áreas produtoras já são reconhecidas pelo mercado consumidor pela qualidade e tipicidade de sua produção de queijos artesanais. Entre elas, o Cerrado Mineiro, a Serra do Salitre e Araxá, também em Minas, o Arquipélago do Marajó (PA), o Agreste Pernambucano (PE), o Seridó (RN), a região Serrana (RS e SC) e a região do Jaguaribe (CE).

As produções desses queijos envolvem grande quantidade de pequenos e médios produtores, que desempenham um importante papel social e econômico. Como grande parte da produção ainda é informal e não possui registro de Indicação Geográfica ou marca coletiva, o Ministério da Agricultura vem trabalhando para promover o desenvolvimento nessas regiões e o consequente reconhecimento dos produtos.

Para isso, consultores – contratados pela SDC, em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) – já visitaram essas oito áreas, levantando informações sobre as regiões e os queijos produzidos e identificando os agentes da cadeia produtiva (fornecedores de insumos/serviços, produtores, processadores e distribuidores), técnicos, governança local, secretarias de turismo e academia. Também promovem   eventos para sensibilizar as comunidades locais e demais envolvidos na cadeia produtiva de queijos artesanais.

Seridó Potiguar

No Rio Grande do Norte, por exemplo, foram realizados eventos de sensibilização para atores ligados à cadeia dos queijos artesanais da região do Seridó Potiguar. Um deles foi o Seminário de IG, organizado pela Superintendência Federal de Agricultura do Rio Grande do Norte (SFA-RN), com apoio do Sebrae, Emater, Adese e RN Sustentável, em abril deste ano. Participaram do seminário cerca de 50 pessoas, entre pequenos e médios produtores de queijo, sindicalistas, representantes de federações (de trabalhadores e patronal), gestores municipais e estaduais e técnicos com atuação municipal e regional.

Os participantes puderam conhecer um pouco mais sobre a Indicação Geográfica e os técnicos identificaram a demanda por ações objetivas e diretas para a legislação estadual e por estudos sobre o processo tecnológico de produção do queijo tipo manteiga, a fim de garantir a inocuidade do produto ofertado à população.

O que é?

O registro de Indicação Geográfica (IG) é atribuído a produtos ou serviços que são característicos de um determinado local de origem. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e recursos humanos, como o conhecimento para produzi-lo (saber fazer ou know-how).

O registro é concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O Ministério da Agricultura é uma das instituições de fomento das atividades e ações para Indicação Geográfica de produtos agropecuários.

 

Fonte: MAPA

Normas para a certificação do Mel do Pantanal

Foto: Vanderlei dos Reis

Apicultores e instituições discutem regras para a produção do mel pantaneiro com selo de Indicação Geográfica

 

Foto: Vanderlei dos Reis
Foto: Vanderlei dos Reis

 

O caderno de normas que deverá guiar a produção apícola certificada pelo selo de Identidade Geográfica (IG) do Mel Pantaneiro está tomando forma. Por meio de reuniões e do seminário Mel do Pantanal, realizado no início desta semana na Embrapa Pantanal em Corumbá (MS), os pesquisadores, apicultores, cooperativas, associações e diversas instituições que trabalham com a atividade puderam discutir as regras que serão aplicadas à produção apícola identificada como pantaneira pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). “Esse produto vai ser obtido de acordo com normas rígidas. Essa produção, além disso, vai ser certificada, ou seja: além da palavra do produtor, vai ter uma instituição e pessoas independentes que vão atestar que esse produto tem qualidade”, diz o pesquisador da Embrapa Pantanal Vanderlei dos Reis.

 

O selo de Identidade Geográfica do Mel Pantaneiro, concedido este ano pelo Inpi, é uma garantia ao consumidor sobre a região onde o produto foi obtido e por quais métodos ele foi produzido, diz Vanderlei. Segundo Gustavo Bijos, presidente da Federação de Apicultura e Meliponicultura de MS (Faems), o investimento para produzir de acordo com as regras da IG pantaneira deve girar em torno de R$ 500 e R$ 1.000 ao ano, por produtor. “Ele pode comprometer uma pequena parcela da produção para bancar os custos da IG. O retorno, com certeza, é extremamente seguro”, diz Gustavo. “Aqui no Mato Grosso do Sul, o quilo do mel varia de R$ 25 a R$ 40 (na venda direta ao consumidor). O mel do Pantanal pode chegar a até R$ 60 o quilo”, afirma.

 

Mesmo assim, Gustavo lembra que participar da certificação de Identidade Geográfica é uma escolha do produtor. No caso de Albino Rochembach, que é dono de um sítio no assentamento Tamarineiro II, próximo à fronteira com a Bolívia, sua produção é toda comercializada entre a população do próprio assentamento e regiões próximas. “A turma daqui queria comprar mel. Fui vendendo e colocando mais caixas. Eu comecei com duas, até que cheguei a 15”, diz Albino. Por produzir uma quantidade suficiente apenas para estas vendas, ele afirma que ainda não deve investir para caracterizar a produção com a IG do Pantanal. Já Cristiano da Conceição, produtor rural na área do assentamento Taquaral (que também fica próximo à fronteira), demonstra interesse e procura meios de viabilizar o investimento na certificação. “É preciso acontecer uma política de incentivo para aumentar o número de produtores e a quantidade de equipamentos”, diz.

 

O pesquisador Vanderlei ressalta que a maioria dos investimentos exigidos pela IG do Pantanal não deverá ser feita em novos materiais ou equipamentos, mas na administração, planejamento e gestão do negócio apícola – ou seja, na profissionalização da atividade. “Isso é muito bom porque vai melhorar o controle, possibilitando que o produtor comece a verificar onde pode aperfeiçoar a produção, quais são os gargalos, quais são os diferenciais”. Para o fiscal federal agropecuário Márcio Menegazzo, da Superintendência Federal de Agricultura de Mato Grosso do Sul (SFA/MS), a Identificação Geográfica abre novos mercados para o Mel do Pantanal. “A IG vem para inserir o produtor dentro do mercado de especialidades, que é mais exigente do ponto de vista de protocolos de produção, responsabilidade social e ambiental (…). Consequentemente, o produtor tem uma condição de remuneração melhor”.

 

 

 

Fonte: Embrapa Pantanal

Pastel de Chaves ganha Indicação Geográfica Protegida

Foto: Gerardo Santos/Global Imagens

O pastel de Chaves passa a integrar a lista de mais de 1.200 produtos já com denominação IGP, uma certificação oficial regulamentada pela União Europeia.

O pastel de Chaves é um folhado com formato de meia-lua recheado com um preparado de carne de vitela picada e cebola. A produção diária ultrapassa mais de 25 mil unidades.

Cristiana Morais, técnica do município de chaves, responsável polo processo de certificação que começou há nove anos, considera que este selo vai ser benéfico para a cidade. Ela sublinha também que há por aí muitos pastéis “falsos”, mas dá algumas dicas para distinguir um original. Um pastel, comprado em Chaves, custa em média 70 cêntimos.

A Indicação Geográfica Protegida é uma certificação oficial regulamentada pela União Europeia atribuída a produtos gastronómicos ou agrícolas tradicionalmente produzidos numa região.

 

Fonte: TSF

Pelotas

Foto: Sebrae
Para provar que é bom

A Indicação de Procedência – IP deverá agregar valor de antigas receitas de doces caseiros, fortalecendo e protegendo pequenos produtores locais e também valorizando a herança cultural de um produto artesanal e tradicional.

Sinônimo de doceria tradicional portuguesa, os doces de Pelotas obtiveram a Indicação de Procedência em 2011, mas, na prática, já eram reconhecidos desta forma em todo o Brasil. Os 15 doces finos e de confeitaria certificados pela IP seguem o “saber fazer” local, uma tradição de 200 anos. Esses conhecidos doces portugueses são elaborados à base de ovos e açúcar, como Papo de Anjo, Pastel de Santa Clara, Quindim, Ninhos de ovos etc. Já os doces de frutas, como os de pêssegos e figos em calda seguem a tradição alemã, trazida por imigrantes que se fixaram no meio rural.

Legado

A Associação Doce Pelotas é fruto do trabalho de um grupo de empresários do setor, formalizada em abril de 2008 com apoio do Projeto Podo de Doces de Pelotas, conduzido pelo SEBRAE/RS, desde 2006. A certificação é uma vitória da Associação no sentido de diferenciar os produtos originais, proteger o legado das receitas tradicionais, estimular a inovação e o desenvolvimento das empresas do setor e, ainda, garantir a exclusividade no mercado. Os doces tradicionais da região de Pelotas seguem um regulamento técnico de produção e possuem um selo de autenticidade.

Receitas originais

A presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Maria Helena Jeske, explica que, no início, eram dez associados. Algumas empresas utilizavam receitas próprias, diferentes das originais. Ela mesma se encaixava nesse caso. Quando foi iniciado o processo de certificação, o grupo cresceu para 16, mas, desse total, apenas cinco empresas investiram na conquista do selo e foram certificadas. Com o objetivo de resgatar a tradição, uma das exigências da certificação é o uso apenas de receitas tradicionais. De acordo com a presidente da associação, outras doceiras da região também estão começando com o processo de certificação.

As empresas cadastradas até o final de 2012 eram: Imperatriz Doces Finos, Anette Ruas Doces Tradicionais, Delícias Portuguesas, Pastel Santa Clara e V&N Doces Artesanais. Elas podem comercializar 15 tipos de doces. Todos recebem um selo e um número que identifica a empresa produtora, o dia da produção e a validade do doce, além dos ingredientes da receita. O selo garante a qualidade na produção e credibilidade para os produtores.

Procedência 
Registro IG 200901 INPI Indicação de Procedência/2011
Área Geográfica Delimitada: Municípios: Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo, Pelotas, São Lourenço do Sul, Turuçu- Região Sul do Rio Grande do Sul
Altitude: 7m a 430m
Herança europeia

Com clima subtropical úmido e temperado, Pelotas é, também, o maior produtor de pêssegos para a indústria do país. Destaca-se ainda pelo cultivo de aspargos, pepino, figo e morango, além de ser grande produtor de arroz, de leite e de carne bovina. Aliás, a história do município está ligada à produção de charque, favorecida pelo clima e iniciada em fins de 1700 por imigrantes portugueses. A herança da cultura europeia pode ser vista na arquitetura e casarios de Pelotas.

Delícias portuguesas

Maria Alzira Rosa Carreira conta que seus pais e os cinco filhos vieram de Portugal para o Brasil em
1963, convidados para produzir os tradicionais doces portugueses em uma padaria. Ao longo do tempo, seu pai adquiriu o negócio, depois vendido. Os doces passaram a ser produzidos pela mãe na residência da família, para atender encomendas de casamento (os bem-casados sempre foram o carro-chefe), lojas de doces e de outras doceiras com especialidades diferentes.

Na década de 1980, a família recebeu o convite para participar da Feira Nacional do Doce-Fenadoce, evento realizado anualmente, desde 1986, em Pelotas. Foi quando, para aumentar a variedade de produtos, começaram a buscar, entre os parentes, outras receitas de doces portugueses tradicionais. As mesmas receitas daqueles que há 200 anos eram servidos nos banquetes oferecidos pelos “barões do charque”. Atualmente, a empresa – batizada de Delícias Portuguesas – possui receitas de sete diferentes regiões e, há dois anos, a título de homenagem, lançou um doce típico da Ilha dos Açores. O “Véu de Noiva” tem massa feita com ovos, coco e nozes e recheio de ovos moles.

Doces certificados

Na Indicação de Procedência de Pelotas é autorizada a produção dos seguintes doces: bem-casado, quindim, ninho, camafeu, olho de sogra, pastel de Santa Clara, papo de anjo, fatia de Braga, trouxas de amêndoas, queijadinha, broinha de coco, beijinho de coco, amanteigado, panelinha de coco e os doces cristalizados.

 

 

Informações:
Associação dos Produtores de Doces de Pelotas
www.docesdepelotas.org.br
Tel.: (53) 3028-1541

 

Fonte: Revista A Lavoura Edição Nº 706/2015

Serro

Foto: Paulo Procópio
Queijo com sabor mineiro, uai!

Com aparência e sabor específicos, o queijo do Serro é hoje uma produção artesanal bem sucedida, conservando e aproveitando toda a produção leiteira regional, em áreas cuja geografia limita o escoamento dessa produção.

A maneira artesanal de fazer o queijo de leite cru na região do Serro, em Minas Gerais, foi reconhecida e certificada em 2011, com a Indicação de Procedência (IP), concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

A certificação confere uma proteção ao produto, trazendo agregação de valor, pois todo produtor que usar a marca “Serro” deverá seguir as normas de fabricação do queijo, zeladas pela Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs).

O processo artesanal de produção do queijo do Serro é uma herança do saber fazer dos imigrantes portugueses vindos da região de Serra da Estrela (Portugal) há mais de dois séculos. É influenciado pelas características do clima, relevo, vegetação e do solo da região, que favorecem a presença de bactérias que interferem em seu sabor.

Hoje, o queijo do Serro é uma atraçã turística. O turismo, aliás, é outro benefício trazido pela Indicação de Procedência, assim como a melhoria do mercado. O preço subiu, o produto ficou mais procurado e mais valorizado.

Território

A região produtora do queijo do Serro é formada pelos municípios de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas Rio Vermelho, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e Serro. Todos estão situados no centro-nordeste de Minas Gerais, na região central da Serra do Espinhaço.

O clima da região é o tropical de altitude. As chuvas são bem distribuídas, entre os meses de setembro e março. A altitude alterna entre 600 a 1.200 m e 67% da área delimitada pela Indicação Geográfica – IG, é montanhosa.

A altitude, as condições geomoforlógicas e edáficas, além das características microclimáticas locais possibilitaram o surgimento de pastagens naturais peculiares dos campos de altitude, dieta base das vacas leiteiras da região.

Processo de rastreabilidade

A Associação dos Produtores Artesanais do Queijo do Serro (Apaqs) foi criada para dar voz e força política aos produtores, após as restrições do Ministério Público à comercialização do produto, restrita ao Estado de Minas Gerais. A cooperativa local, criada há 50 anos, registrou a marca e cuida da comercialização.

Em todo Estado, existem cerca de 30 mil produtores de queijo minas artesanal. Destes, aproximadamente 10 mil estão nas regiões caracterizadas como tradicionais produtoras, produzindo cerca de 10 mil toneladas/dia.

A Emater-MG incentiva o cadastramento das queijarias no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O cadastramento é a comprovação oficial da boa qualidade do queijo, no aspecto sanitário, uma vez que traz segurança alimentar ao consumidor. Também abre portas de novos mercados para o produto.

Procedência
Indicação de Procedência 2011 Registro IG 201001
Abrangência: Compreende os municípios de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro,Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas, Rio Vermelho, Sabinópolis, Santo Antonio de Itambé, Serra Azul de Minas e Serro.
Qualidade e autenticidade

Após a certificação de Indicação de Procedência, a tendência é que o mercado consumidor se amplie a cada dia, e se torne mais exigente quanto à qualidade do Queijo do Serro. Para assegurar a autenticidade do queijo artesanal, há associações de produtores que já pensam em obter o selo de Denominação de Origem Controlada (DOC).

A fim de preservar a história e a tradição, a associação teve a ideia de criar o “São do Queijo”, um museu com artefatos antigos de fabricação (como as fôrmas de madeira) e estrutura de apoio, como auditório.

Padrões de identidade

Cilíndrico, de coloração branca amarelada, pesando entre 700 gramas e um quilo, o Queijo do Serro possui casca de crosta fina e massa interna esbranquiçada, consistente e de sabor levemente ácido. E isso agrega valor, pois o consumidor terá como diferenciar o queijo legítimo do falsificado. Sua produção é feita a partir do leite cru integral e do uso do “pingo”, um fermento lácteo natural que preserva a microbiota original. Está pronto para o consumo após a “cura”, processo de maturação em que o queijo permanece entre 60 e 120 dias em câmaras com umidade e temperatura controlados. O Serro é ligeiramente mais ácido e menor que o da Canastra.

Um pouco de História

Ciclo do ouro
No século XVIII , a antiga Vila do Serro Frio foi ocupada pela Coroa Portuguesa, em busca do ouro e do diamante, abundantes na região. A vila chegou a fazer parte da Estrada Real, como um dos principais centros mineradores do Estado de Minas Gerais. As marcas do garimpo ainda estão na pequena e bucólica cidade, de arquitetura colonial.

Os portugueses iniciaram a atividade pecuária como suporte ao garimpo de ouro e diamante e foi com o declínio do ciclo do ouro que a produção de queijo ganhou impulso, pois era preciso aproveitar o leite, matéria-prima bastante perecível. A técnica de fabricação é a mesma usada na produção do famoso queijo Serra da Estrela, tradicional região produtora em Portugal. O costume foi adaptado pelos moradores do Serro e passada de pai para filho.

O Queijo do Serro

O produto possui características específicas de cor, consistência, gosto e conteúdo de bactérias lácteas. É preparado com leite cru, diferentemente do método industrial, que utiliza processos mecanizados de produção, além de pasteurizar o leite e matar todas as bactérias. O queijo artesanal é mais rico do ponto de vista nutricional, porque é um produto vivo, que mantém a reprodução das bactérias, chamada de maturação ou “cura”.

A produção com leite cru chegou a ser condenada pelo Ministério da Agricultura por questões de segurança alimentar, entretanto, não há riscos se o gado for vacinado contra a tuberculose e brucelose e se a fonte de água utilizada na produção do queijo for de boa qualidade.

O registro nacional do modo artesanal de fazer queijo gera o reconhecimento do bem como elemento identitário da cultura mineira e brasileira. Quem produz se sente orgulhoso do ofício e preserva a maneira de fazer.

Hoje, o queijo do Serro é bastante consumido nas regiões produtoras e em Belo Horizonte. A presença do queijo na cultura mineira vai além do amplo consumo. Há uma série de produtos derivados do queijo, como o delicioso e inigualável pão de queijo. Há também modos de falar que resgatam a força identitária do produto. É o caso da expressão “um abraço, um beijo e um pedaço de queijo”. Na última semana do mês de setembro, o queijo é celebrado na cidade do Serro com uma festa formada por concurso leiteiro, shows e vaquejada.

Patrimônio Imaterial

Considerado o primeiro patrimônio imaterial do Brasil, o queijo foi estudado pelo historiador e professor da Escola de Veterinária da UFMG, José Newton Coelho Meneses, contratado para elaborar um dossiê interpretativo que compõe o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Iphan, a partir do qual é feita a avaliação dos pedidos de registro de bens de patrimônio de natureza imaterial.

A elaboração do dossiê interpretativo sobre o queijo artesanal de Minas durou dois anos. O professor visitou as regiões do Serro, Canastra e Alto Paranaíba, que se destacam na produção da iguaria. Cada região possui sua tipologia específica de produção do queijo, mas há características comuns que permitem identificar um modo de fazer queijo artesanal.

Cinco regiões tradicionais

O queijo artesanal do Serro é o 14º produto brasileiro reconhecido pela IG, um dos serviços do INPI. Além do Serro, o queijo minas artesanal é produzido em outras quatro regiões demarcadas pelo Programa Queijo Minas Artesanal: Cerrado, Araxá, Campos das Vertentes e Canastra.

Informações
Associação dos Produtores Artesanais do Queijo do Serro – APAQS
Endereço: Rua Dona Maria Amélia, 93 – Serro/ MG CEP: 39.150-000
Telefone: +55 38 41-1281
Email: apaqs_serro@ yahoo.com.br

 

Fonte: Revista A Lavoura Edição Nº 707/2015

Goiabeiras

Panela de Barro é tradição centenária no Espírito Santo

Há várias gerações, a fabricação de panelas de barro de Goiabeiras se mantém quase inalterada. São avós, mães e netas que preservam a identidade cultural, exercendo o mesmo ofício que os índios, quando aqui aportaram os portugueses na época do descobrimento.

Goiabeiras Velha, bairro antigo localizado na parte continental norte de Vitória, no Espírito Santo, teve aceito, em 2011, o pedido de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para as panelas de barro fabricadas na região. Esse é o segundo artesanato brasileiro a receber a certificação do INPI. O reconhecimento para as panelas de barro de Goiabeiras é na categoria Indicação de Procedência (IP), que delimita uma área conhecida pela fabricação de certos produtos, mas sem relação direta com o meio.

O bairro de Goiabeiras se popularizou pela produção de panelas de barro, hábito que foi herdado de indígenas e afro-descendentes residentes naquela região há mais de 300 anos. A culinária produzida nas panelas de barro é típica da região.

As panelas de Goiabeiras constituem o primeiro patrimônio cultural do Brasil reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

História e tradição

Um dos maiores ícones da cultura do Espírito Santo, as paneleiras de Goiabeiras têm um ofício que é tradicional. Suas casas e o galpão de sua associação ficam à beira do canal que banha o manguezal.

Tradicionalmente, a produção das panelas utiliza matérias-primas provenientes do meio natural. A argila extraída de uma jazida localizada no Vale do Mulembá, no bairro de Goiabeiras, na ilha de Vitória, é de boa plasticidade e bastante arenosa, conferindo às peças maior resistência ao calor e ao impacto. Este processo é realizado pelos chamados “tiradores de barro”. A mistura da argila com sedimentos que são encontrados na superfície, dá a liga necessária para a produção das panelas. E é com a casca da planta “mangue vermelho”, também coletada no manguezal, que se faz a tintura de tanino. Os dois principais instrumentos do ofício — a cuia e a vassourinha de muxinga — são feitas a partir de espécies vegetais encontradas na região.

As artesãs produzem as panelas de barro utilitárias e sua produção está diretamente ligada à gastronomia. A panela é indispensável no preparo e apresentação das moquecas de peixe e de frutos do mar, além da torta capixaba, iguaria consumida tradicionalmente na Semana Santa. Esses elementos fazem parte dos valores que constituem essa identidade cultural.

A fabricação das panelas de barro é uma atividade tradicionalmente feminina, uma habilidade repassada de mãe para filha por gerações sucessivas, no âmbito familiar e comunitário. Esse “saber” foi apropriado dos índios por colonos e descendentes de escravos africanos que vieram a ocupar a margem do manguezal, território historicamente identificado como um local onde se produziam panelas de barro.

Paneleiras

A técnica cerâmica utilizada é de tradição indígena e reconhecida por estudos arqueológicos como legado cultural Tupi-guarani e Una. Consiste em modelagem manual, queima a céu aberto e impermeabilização com a tintura de tanino.

A certificação das artesãs de Goiabeiras, envolve também o ativo da biodiversidade, por causa da planta “mangue vermelho” com a qual elas colorem o barro usado na fabricação das panelas.

Com competência, as paneleiras confeccionam, em barro, panelas, potes, travessas, bules, caldeirões, frigideiras etc, de diversas formas e tamanhos.

Anteriormente, as Paneleiras trabalhavam individualmente em suas próprias casas. Atualmente, mais organizadas, estão agrupadas na Associação das Paneleiras de Goiabeiras, uma espécie de cooperativa. Trata-se de um galpão onde cada uma, independentemente, produz e comercializa suas próprias peças. Sob o aspecto econômico, a renda que auferem, é significativa no contexto da manutenção de suas famílias.

Procedência
Indicação de procedência /2011 Registro IG 201003 INPI
Abrangência: situa-se na parte continental da cidade de Vitória.
Panelas de barro

Raiz da cultura popular do Espírito Santo, a legítima panela de barro capixaba, que se destaca por sua longa durabilidade, é identificada por um Selo de Qualidade da Associação das Paneleiras de Goiabeiras.

Os tipos de panelas autorizadas para o selo de Goiabeiras são: moquequeira ou frigideira, a panela de arroz ou pirão, o caldeirão, a assadeira onde é assada e servida a típica torta de capixaba, e as panelas de caldo, com bastante demanda entre os restaurantes. Foram estes tipos de panelas que deram a reconhecimento nacional às panelas de Goiabeiras.

Benefícios

A Indicação de Procedência trouxe às paneleiras de Goiabeiras a garantia de origem e legitimidade para estas tradicionais panelas, que, por terem alcançado fama em todo território nacional, eram muito copiadas e falsificadas. O registro do INPI protege o nome Goiabeiras, evitando que ele seja utilizado de forma indevida.

A agregação de valor ao produto também traz em si história e tradição, principalmente por este modo de fazer o artesanato mais que centenário, que se pode sentir em cada uma das panelas de Goiabeiras.

Certificado de boas práticas ambientais

A associação de Paneleiras de Goiabeiras (APG) ganhou reconhecimento internacional. Agora, o grupo possui o certificado 2010 Melhores Práticas — Prêmio Internacional de Dubai para Melhores Práticas para Melhoria das Condições de Vida, distribuído pelo município de Dubai, dos Emirados Árabes Unidos, e a Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-HABI TAT).

O trabalho realizado pela Associação de Paneleiras de Goiabeiras (APG) foi classificado nas categorias Engajamento Cívico e Vitalidade Cultural, Respeito à Diversidade Cultural, Redução da Pobreza, Geração de Trabalho e Renda, Geração de Emprego, Igualdade de Gênero e Inclusão Social, Poderes de Decisão para as Mulheres.

As iniciativas que satisfaçam os critérios para uma melhor prática são incluídas num banco de dados internacional e acessíveis à pesquisa. As lições aprendidas com as melhores práticas selecionadas são analisadas e transferidas para outros países, cidades ou comunidades.

As implicações políticas e lições de melhores práticas são, ainda, incluídas no guia Estado das Cidades no Mundo — Relatório Cidades e no Relatório Global sobre Assentamentos Humanos.

Um programa de educação ambiental focado na coleta sustentável do tanino e a aquisição de direitos de extração de argila também estão ajudando a preservar o ecossistema local.

 

Informações
Associação das Paneleiras de Goiabeiras / Endereço: Rua das Paneleiras, 55 – Estação – Vitória/ ES –
CEP: 29.075-105
Telefone: +55 27 3327-1366 / +55 27 9899-1055
beneciapaneleira@hotmail.com

 

Fonte: Revista A Lavoura Edição Nº 707/2015

Região do Jalapão do Estado do Tocantins

Foto: Emerson Silva
O Ouro do Jalapão

O Capim Dourado é uma joia natural. Herança passada de geração para geração, promove renda às comunidades locais no Estado do Tocantis.

Numa região árida, no leste do Tocantins, entre rios e riachos, brotam flores com finas hastes douradas que reluzem ao sol: é o Capim Dourado. Ele só nasce ali nas veredas do Jalapão e, a partir das mãos talentosas de artesãos da região, dão origem a joias e acessórios, que fazem sucesso em todo o mundo.

Tradição

As técnicas de manuseio do Capim Dourado, no Jalapão, foram aprendidas no ínicio dos anos 1930, como herança das comunidades quilombolas que ali viviam. Mas o produto só foi ganhar popularidade e reconhecimento em todo território nacional no fim dos anos noventa.

O manejo do Capim Dourado para produção de artesanato tem mobilizado de forma crescente as populações tradicionais da região. Desde o ano 2000, diversas associações se organizaram, congregando cerca de 800 pessoas que têm uma importante fonte de renda por meio da produção e venda de bolsas, caixas, mandalas, suplás e bijuterias fabricadas com as hastes do Capim Dourado costuradas com “seda” de Buriti, feita a partir da fibra das folhas dessa palmeira típica da região.

Sustentabilidade

As comunidades, preocupadas com a sustentabilidade da atividade, buscaram apoio de organizações, como o IBAMA, para a realização de pesquisas que verificassem o impacto do extrativismo do capim. Essa parceria produziu informações relevantes que foram agregadas na Portaria 362/2007, que determina o período e a maneira que deve ser feito o manejo do Capim Dourado e do buriti para que a atividade seja sustentável.

Além disso, ao longo dos anos, as associações têm aprimorado as técnicas produtivas e buscado mecanismos que atestem a origem e a qualidade das peças que produzem, visando à maior inserção e valorização de seus produtos no mercado.

Procedência
Registro IG 200902 Indicação de Procedência/2011
Área Geográfica Delimitada A região do Jalapão do Estado de Tocantins. Municípios deMateiros, São Felix do Tocantins, Ponte Alta do Tocantins, Novo Acordo, Santa Terezado Tocantins, Lagoa do Tocantins, Lizarda e Rio Sono.

Manejo do capim

A retirada do Capim Dourado é feita nos campos úmidos, caracterizado por uma vegetação rasteira sem árvores ou arbustos, próximos aos cursos de água. Em geral, o capim é uma planta com tempo de vida entre 5 e 10 anos. No período de abril a maio, as hastes começam a crescer, mas, é só em setembro, com as hastes já secas e as sementes maduras, que se realiza a colheita.

Assim como em toda vegetação do cerrado, o Capim Dourado precisa de fogo para germinar. É o fogo que quebra a dormência da semente e faz com que ela se prolifere pelo campo.

O artesanato

A costura do capim é um processo que exige muito cuidado, pois a peça de capim pode quebrar e inutilizar todo aquele filete. Os materiais utilizados para confecção das peças de artesanato são extremamente simples: Capim Dourado, a seda do buriti, e uma agulha.

Os artesãos da região definem dois tipos de capim: o “douradão”, com hastes mais grossas para peças grandes; e o “douradinho”, com filetes mais flexíveis e delicados, para peças pequenas.

A maioria desses artesãos trabalha em casa, e estes trabalhos manuais são uma forma de incentivar a ocupação e possibilitar maiores oportunidades de renda para os moradores locais. Além disso, esses produtores vêm aperfeiçoando suas técnicas no decorrer dos anos, com apoio de diversas entidades, em cursos de produção e design.

Indicação de Procedência

A Indicação de Procedência (IP) da Região do Jalapão do Estado de Tocantins existe desde de 2011. Além de garantir o uso do nome do Jalapão às comunidades locais, qualifica a produção, agrega valor ao produto final e incentiva ainda mais o turismo aliado ao artesanato dessa belíssima localidade.

 

Informações:
Associação dos Artesãos em Capim Dourado da Região do Jalapão do Estado de Tocantins
arejacapimdourado@yahoo.com – Tel:(63) 3216-3484

Fonte: Revista A Lavoura Edição Nº 706/2015

Identificação Geográfica concedida à cachaça de Abaíra atrai investidores

Foto: Heckel Junior

A Identificação Geográfica conquistada pela cachaça de Abaíra no final de 2014, já está gerando resultados positivos. Empresas de outros estados, atraídos pela qualidade e credibilidade que o produto possui, demonstram interesse em comercializar a aguardente em grande escala, e alguns empresários já procuram a Associação dos Produtores de Aguardente de Qualidade da Microrregião de Abaíra (Apama), visando implantar agroindústrias na região. “Dois empresários, por exemplo, já especulam a possibilidade de implantar uma fábrica de licores na região. Eles foram atraídos pelo status de IG, que garante à cachaça o reconhecimento de sua reputação, qualidades e características que estão vinculadas à região onde é produzida, garantindo maior credibilidade, a conquista de novos mercados e a atração de agroindústrias para região, o que dinamiza a economia local, e gera emprego e renda”, explicou o presidente da Apama, Evaristo Carneiro.

De acordo com Carneiro, o próximo passo será a criação do Conselho Regulador, programado para acontecer em reunião marcada para o início de maio. “Esse conselho será criado para implementar e conduzir ações com objetivo de organizar, fiscalizar e formalizar a produção na região. O grupo será formado por reapresentantes de instituições do governo, associações de produtores e entidades técnicas vinculadas ao segmento”, disse.

Para o engenheiro agrônomo e secretário executivo da Câmara Setorial da Cana-de-açúcar, Nelson Luz, “a conquista do IG foi um grande passo, mas é a implantação do Conselho Regulador que vai potencializar os efeitos desse importante status já conferido à cachaça. A regularização vai inibir a produção clandestina, a ação dos atravessadores, além de garantir à população o consumo de um produto de qualidade, adequado às normas de fabricação e comercialização exigidas”. Ele reforça que “o conselho deve ser formado por entidades como o Mapa, Sebrae, Vigilância Sanitária, Anvisa, Ministério Público, secretarias da Agricultura, Saúde e Fazenda, e produtores rurais organizados, comprometidas com todo o processo de produção da cachaça, desde o cultivo da cana-de-açúcar até chegar ao produto final”, ressaltou o agrônomo. Ele chama atenção para a necessidade da difusão de novas tecnologias, destinadas ao aumento da produtividade no segmento, através do envolvimento de órgãos de pesquisas, a exemplo da Embrapa. Todas as ações no setor são estimuladas e apoiadas pela Secretaria da Agricultura do Estado (Seagri).

Os produtores da região se recuperam dos efeitos da seca que assolou o Nordeste entre os anos de 2012 e 2014, e dizimou aproximadamente 70% dos canaviais da região. “As chuvas que caíram na região no final do ano passado reacenderam a esperança dos produtores de cana”, destacou Evaristo Carneiro.

Identificação Geográfica

A Identificação Geográfica é conferida aos produtos ou serviços característicos do seu local originário, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de diferenciá-los dos similares disponíveis no mercado. Esses produtos são reconhecidos pela qualidade única em função de recursos naturais como o solo, a vegetação, o clima e o saber fazer (know-how ou savoir-faire). Desde 1998, o reconhecimento concedido pelo concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), vem sendo buscado pela Cooperativa dos Produtores de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama), a Apama e pela Seagri.

 

Fonte: Ascom Seagri

Produtores de cacau do ES conseguem indicação geográfica com ajuda do Sebrae

Produtores de cacau passarão por uma reciclagem do aprendizado (Foto: Alisson Fagundes/Ed. Globo)

Parceria com a Associação dos Cacauicultores de Linhares reforçou o valor do fruto do município de Linhares.

Produtores de cacau passarão por uma reciclagem do aprendizado (Foto: Alisson Fagundes/Ed. Globo)
Produtores de cacau passarão por uma reciclagem do aprendizado (Foto: Alisson Fagundes/Ed. Globo)

A excelência do chocolate depende da sua matéria-prima. Nesse quesito, o município de Linhares – situado ao Norte do Espírito Santo, divisa com a Bahia – já é reconhecido pelo Instituto Nacioanal de Propriedade Industrial (Inpi), desde 2012. Linhares produz o cabruca, espécie de cacau plantado no sistema agroflorestal, que consorcia o fruto com mata nativa, dando-lhe características especiais. Com isso, Linhares conquistou a Indicação Geográfica (IG) do cacau.

Mas o reconhecimento veio em uma época em que os produtores estavam desolados com a vassoura de bruxa, doença que entrou na região em 2001 e fez a produção capixaba cair de 14 mil toneladas/ano para 3 mil toneladas em 2012. “O fungo prejudica não só a parte vegetativa da árvore, mas o fruto em qualquer idade”, explica Maurício Buffon, presidente da Associação dos Cacauicultores de Linhares (Acal), que congrega 200 produtores.

A única preocupação era eliminar os pés de cacau contaminados e substituir por variedades resistentes à vassoura de bruxa. “Quem fez isso naquela época, agora está sorrindo porque a saca do cacau recuperou o preço e está quase 500 reais”, diz Buffon. O trabalho de renovação das lavouras continua e conta com a ajuda governamental que distribui 100 mil mudas de cacau por ano.

Metas

Neste novo cenário, o Sebrae começou a trabalhar com os produtores para a efetiva implantação da IG do cacau de Linhares. A instituição tem a Acal como parceira e organizou um simpósio para a promover a renovação da lavoura cacaueira e o investimento em qualidade. Juntos, Sebrae e Acal traçaram um Plano de Ação para os próximos quatro anos. “No primeiro ano, vamos trabalhar num projeto piloto para certificar 50 produtores de cacau”, diz Nelsimar Bastos, gestor dos projetos de IGs e Marcas Coletivas do Sebrae no Espiríto Santo.

Os agricultores passarão por uma reciclagem do aprendizado. Eles terão que adequar não só a infraestrutura, mas também os procedimentos para atingir os padrões de sustentabilidade que uma IG demanda. “O fato do produtor estar no território de Linhares não significa que ele terá o selo. Só conquistará a certificação quem respeitar os critérios de qualidade exigidos”, diz Buffon.

Segundo o presidente, a vassoura de bruxa deixou os cacauicultores em dificuldade financeira. Sem recursos, muitos descuidaram das estruturas: cocho de fermentação das amêndoas, locais de secagem e armazenagem. Eles precisarão investir em melhorias para alcançar o padrão exigido pela certificacão. A boa notícia é que grandes empresas do mercado de cacau gostaram da iniciativa e sinalizaram ajuda. Entre eles estão: Nestlé, Mars, Barry Callebaut e Mondelez.

O objetivo é que os produtores que conquistarem a IG, no final destes quatros anos, vendam a matéria-prima por um maior valor agregado. Para a região de Linhares, a IG é uma promessa de que novos tempos bons virão para o cacau, produto que foi uma das maiores fontes de renda e empregos do município. A cidade chegou a ter 1.000 cacauicultores, hoje são 300.

O Sebrae trabalhará a promoção do Cacau com a IG de Linhares, bem como estratégias para comercialização do produto. “Na Europa, as IGs são bastante reconhecidos. Esperamos abrir novos mercados por conta dos critérios de qualidade que a certificação exige”, diz Bastos.

 

Fonte: Revista Globo Rural

Mel do Pantanal consegue o selo de Indicação Geográfica

O Pantanal agora é região oficialmente reconhecida como produtora de mel. O selo de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP), conferido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), na última terça-feira (10), por meio de publicação no Diário Oficial do órgão, define a maior planície alagável do mundo como região com tradição na produção de mel. Esta é uma antiga reivindicação dos apicultores do Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O Conselho das Cooperativas, Associações, Entrepostos e Empresas de Afins à Apicultura do Pantanal do Brasil (Confenal), requerente do registro, adquiriu o direito exclusivo de autorizar o uso do selo. Esta entidade vai controlar sua aplicação nos produtos. O Sebrae MT apoiou o segmento, a organização de associações mato-grossenses e o processo junto ao INPI.

Novo estímulo

“O selo de Indicação Geográfica Mel do Pantanal era aguardado faz tempo”, comemora Félix Antenor Labaig, biólogo aposentado, apicultor há 40 anos de Cáceres e presidente da Associação de Apicultores do Alto Paraguai (Apialpa). Foram cerca de cinco anos, entre reuniões, organização das associações, o pedido e o registro. A partir de agora, os consumidores terão a garantia de estarem comprando mel pantaneiro, destaca Félix.

“O Pantanal representa a ausência da monocultura. Até o momento, é uma região preservada. A flora pantaneira gera o diferencial do mel da região. Existem néctares, que só ocorrem aqui”, justifica.

Everson de Aquino Nunes, apicultor de Poconé há 10 anos e atual presidente da Associação de Apicultores e Produtores de Mel Orgânico do Pantanal (Apiopan) ficou satisfeito com a notícia. “Faz tempo que estávamos lutando para conseguir este reconhecimento. A atividade anda enfraquecida em nossa região, mas agora acredito que vai incentivar os apicultores a voltar a produzir mais”, acrescentou.

Poconé já chegou a produzir 18 ton/ano. No ano passado, foram 11 ton, informa. O produto é comercializado na região. Uma casa de mel está sendo estruturada pela Apiopan e já foram instaladas a área de extração e vestiário. O selo vai estimular a entidade a continuar aprimorando a casa de mel e haverá retorno de associados, prevê Everson. “Este selo chega em boa hora, pois a atividade anda meio enfraquecida. Vai abrir o mercado para nós, acredito que até a exportação. Vai melhorar a organização e conscientização dos apicultores”, declara José Catarino Mendes, apicultor há 25 anos de Nossa Senhora do Livramento e responsável pela marca Biomendes.

Ele possui cem colmeias e também conta com loja em Várzea Grande. Catarino ressalta que o Pantanal é um bioma ainda virgem, sem problemas de contaminação por defensivos agrícolas e inseticidas, muito comum em regiões frutícolas ou de monoculturas.

Floradas

O paladar e o aroma do produto reflete a biodiversidade do bioma. O apicultor explica que as floradas do Pantanal são únicas e permitem coletar diferentes tipos de mel, em cada época do ano. O mel de Cambará, por exemplo, ocorre em julho e agosto; de ervas aquáticas como o aguapé, em março e abril; de pimenteira, entre dezembro e janeiro; e de hortelã, em maio.

Há espécies vegetais na região pantaneira que são excelentes geradoras de pólen, como a Canjiqueira e a Papeira, que ocorrem na vazante. “A Canjiqueira é ótima para a produção de geleia real. O mel de Canjiqueira é muito gostoso. Ela é linda e as abelhas a adoram”, informa Catarino. Nos meses de julho e agosto, há trepadeiras e cipós que também favorecem a produção de néctares e mel diferenciados, complementa.

Pesquisa

Carla Galbiati, doutora em entomologia da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) /Campus de Cáceres e professora do curso de agronomia, pesquisa há mais de dez anos o mel e a própolis do Pantanal, Amazônia e Araguaia. Os estudos são voltados à comprovação da qualidade física e química dos produtos (não abrangem valor nutricional e propriedades terapêuticas). “Esta conquista é importante para os apicultores. Tenho acompanhado o processo de IG. Este selo é um avanço, pois protege e garante a produção do bioma”, explica a Galbiati. O Brasil passará a se interessar pelo mel do Pantanal, segundo ela. Consequentemente o manejo também será aprimorado. Os apicultores do bioma pantaneiro vão buscar melhorar a qualidade para fornecer o produto a todo o país, prevê a doutora.

 

Fonte: http://www.poconet.com.br/